sexta-feira, 18 de abril de 2014

Conceitos e Definições: Surdocegueira e Deficiência Múltipla





Curso de Especialização: Atendimento Educacional Especializado-AEE/UFC 2014
Disciplina: AEE deficiência múltipla e Surdocegueira

Cursista: Marinete Magalhães de Oliveira









Do Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial
 1- No que se diferenciam a   Surdocegueira e a DMU?
  
   A pessoa com Deficiência Múltipla Sensorial – Visual (MDVI); é aquela que tem a Deficiência Visual (baixa visão ou cegueira) associada a uma ou mais deficiências (intelectual, físico-motora) ou a transtornos globais do desenvolvimento e comunicação e que necessita de programas que favoreçam o desenvolvimento das habilidades funcionais visando ao máximo de independência possível e uma comunicação eficiente. (MAIA et al, 2008 p.14). A pessoa que com Deficiência Múltipla Sensorial – Auditiva (MDHI); é aquela que tem deficiência auditiva/surdez associada à deficiência intelectual ou a deficiência físico-motora ou a ambas, ou a Transtornos Globais do Desenvolvimento. (MAIA et al, 2008, p.14). Pode ocorrer com as pessoas com MDVI e ou com MDHI outras associações tais como: graves problemas de saúde, sendo necessários cuidados específicos ou uso de equipamentos para respiração e alimentação. Essas associações limitam a interação social e as respostas aos estímulos naturais do ambiente, exigindo o uso de várias abordagens para promover o desenvolvimento da aprendizagem dessas pessoas.


Sobre Conceito, Definição e Terminologia
 Surdocegueira

   A Surdocegueira é uma terminologia adotada mundialmente para se referir a pessoas que tem perdas visuais e auditivas concomitantes em graus diferentes, podendo ser:
Ø  Surdocego total: ausência total de visão e audição.
Ø  Surdocego com surdez profunda associada com resíduo visual: ausência de percepção da fala mesmo com aparelho de amplificação sonora individual, com resíduo visual que permite orientar-se pela luz, facilitando a mobilidade e com apoio de alto contraste é possível ter percepção de objetos, pessoas e escrita ou símbolos.
Ø  Surdocego com surdez moderada associada com resíduo visual: dificuldade para compreender a fala em voz normal e sua percepção visual à luz permite mobilidade e com apoio de alto contraste é possível ter percepção de objetos, pessoas e escrita ou símbolos.
Ø  Surdocego com surdez moderada ou leve com cegueira: dificuldade auditiva para compreender a fala em voz normal ou baixa é necessário falar mais próximo ao ouvido e tom mais alto (fala ampliada), total ausência de visão, sem percepção de luminosidade ou vulto..
Ø  Surdocego com perdas leves, tanto auditivas quanto visuais: dificuldade para compreender a fala em voz baixa e seu resíduo visual possibilita que defina e perceba volumes, cores e leitura em tinta ampliada.

Quanto ao período em que surgiu a Surdocegueira temos a definição:

a)   Surdocegueira congênita: quando a criança nasce surdocega ou adquire a Surdocegueira nos primeiros anos de vida antes da aquisição de uma língua (português ou Libras – Língua Brasileira de Sinais). Um exemplo mais frequente destes casos é a criança com sequelas da síndrome da rubéola congênita.
b)   Surdocegueira adquirida: quando a pessoa ficou surdocega após a aquisição de uma língua, seja oral ou sinalizada. Os exemplos mais frequentes deste grupo são pessoas com Síndrome de Usher.

Segundo Grupo Brasil (2002), este grupo de pessoas podem ser:
  • · Pessoas nascidas com audição e visão normal e que adquiriram perdas totais ou parciais de visão e audição
  • ·Pessoas com perda auditiva ou surdas congênitas com deficiência visual adquirida
  • ·Pessoas com perda visual ou cegas congênitas com deficiência auditiva adquirida


Deficiência Múltipla
No Brasil a deficiência múltipla é considerada como uma associação de duas deficiências ou mais. Na América Latina, América do Norte, Europa, Ásia e Oceania a Deficiência Múltipla só é considerada se há nas associações das Deficiências a Deficiência Intelectual.
Como pode ocorrer a Deficiência Múltipla no Brasil
Física e Psíquica
  •  Deficiência física associada à Deficiência Intelectual
  • ·Deficiência Física associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento.

Sensorial e Psíquica
  • ·Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Intelectual
  • ·Deficiência Visual associada à Deficiência Intelectual
  • ·Deficiência Auditiva/Surdez associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento
  • · Deficiência Visual associada a Transtornos Globais do desenvolvimento.

Sensorial e Física

· Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Física
· Deficiência Auditiva/Surdez associada à Paralisia Cerebral
· Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Deficiência Física
· Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Paralisia Cerebral

 Física, Psíquica e Sensorial

·Deficiência física associada à deficiência visual (cegueira ou baixa visão) e a Deficiência Intelectual.
·Deficiência física associada à Deficiência Auditiva/Surdez e a Deficiência Intelectual
·Deficiência visual (Cegueira e ou baixa visão), paralisia cerebral e Deficiência Intelectual.
2- Quais são as necessidades básicas deles?

Ø  Necessidades da Pessoa com Múltipla Deficiência

De acordo com Nunes (2002), podem ser agrupadas em três blocos:

Necessidades físicas e médicas, como por exemplo:
·  A mais frequente causa da deficiência múltipla é a Paralisia Cerebral, que compromete a postura e a mobilidade. Os movimentos voluntários são limitados em termos qualitativos e quantitativos.
·  Limitações sensoriais (visual e auditiva)
·  Convulsões
·  Controle respiratório e pulmonar
·  Problemas com deglutição e mastigação
·  Saúde mais frágil com pouca resistência física

Necessidades emocionais de:
·         Afeto
·         Atenção
·         Oportunidades de interagir com o meio e com o outro
·         Desenvolver relações sociais e afetivas
·         Estabelecer uma relação de confiança

Necessidades educativas devido a:

·         Limitações no acesso ao ambiente
·         Dificuldades em dirigir atenção para estímulos relevantes
·         Dificuldades na interpretação da informação
·         Dificuldades na generalização

 Por que a Surdocegueira não é uma Deficiência Múltipla

   A pessoa que nasce com Surdocegueira ou que fica surdocega não recebe as informações sobre o que está sua volta de maneira fidedigna, ela precisa da mediação de comunicação para poder receber, interpretar e conhecer o que lhe cerca.
   Seu conhecimento do mundo se faz pelo uso dos canais sensoriais proximais como: tato, olfato, paladar, sinestésico, proprioceptivo e vestibular.
   Na deficiência Múltipla não garantimos que todas as informações muitas vezes chegam para a pessoa de forma fidedigna, mas ela sempre terá o apoio de um dos canais distantes (visão e ou audição) como ponto de referência, esses dois canais são responsáveis pela maioria do conhecimento que vamos adquirindo ao longo da vida.

3- Quais estratégias que são utilizadas para aquisição de comunicação com pessoas com Surdocegueira e com Deficiência Múltipla?

    Para as pessoas com Surdocegueira e ou com deficiência múltipla dividimos a comunicação em Receptiva e Expressiva, para favorecer a eficiência da transmissão e interpretação. A comunicação receptiva ocorre quando alguém recebe e processa a informação dada por meio de uma fonte e forma (escrita, fala Libras e etc.). A informação pode ser recebida por meio de uma pessoa, radio ou TV, objetos, figuras, ou por uma variedade de outras fontes e formas. No entanto, comunicação receptiva requer que a pessoa que está recebendo a informação forme uma interpretação que seja equivalente com a mensagem de quem enviou tentou passar.
  A comunicação expressiva requer que um comunicador (pessoa que comunica) passe a informação para outra pessoa. Comunicação expressiva pode ser realizada por meio do uso de objetos, gestos, movimentos corporais, fala escritas, figuras, e muitas outras variações.
Analisando as necessidades de uma pessoa com deficiência múltipla e as consequências que a falta de comunicação pode trazer a abordagem educacional deve ter estratégias planejadas de forma sistemática, num modelo de colaboração na qual a comunicação seja a prioridade central. 
É necessário organizar o mundo da pessoa por meio do estabelecimento de rotinas claras e uma comunicação adequada. É preciso desenvolver atividades de maneira multissensorial para garantir aproveitamento de todos os sentidos e que sejam atividades que proporcionem uma aprendizagem significativa com oportunidades de generalizar para outros ambientes e pessoas (atividade funcional). 
A pessoa com deficiência múltipla necessita de um ambiente reativo, isto é, que responda a suas iniciativas. Seu tempo de resposta deve ser respeitado e a habilidades de fazer escolhas deve estar dentro de suas atividades programadas.

Esta abordagem educacional nada mais é do que o trabalho em equipe. Segundo Nunes (1999) no trabalho com a pessoa com deficiência múltipla é fundamental a colaboração da família bem como dos profissionais de outros serviços no qual todas as pessoas partilhem dos mesmos objetivos. A intervenção se torna mais rica e a responsabilidade é partilhada por todos, assim a família não se sente isolada nem tampouco atribui sucessos e fracassos inteiramente a escola.

Todos devem trabalhar visando à máxima independência possível da pessoa ensinando a ter autonomia para levar uma vida digna. Independência possível no sentido de considerar as dificuldades motoras e cognitivas da pessoa.

Ao elaborar um currículo com atividades funcionais devem-se levar em conta algumas questões:
·         Para que a pessoa precisa aprender esta habilidade?
·         Será relevante para sua vida futura?
·         É uma prioridade para ela ou para sua família?
·         Promove independência?
·         Precisa desta habilidade com frequência?

Deve-se trabalhar num contexto de aprendizagem construtivista, ecológico e responsivo. Por construtivo entende-se: ser construído face a face, nas interações entre diferentes atores e nas relações interpessoais entre eles; no processo contínuo de forma partilhada; na construção contextual, dinâmica e evolutiva. Ecológico no sentido de: envolver os contextos naturais na qual a pessoa se encontra e os atores que com ela interagem. E por responsiva entende-se: dar tempo à pessoa para responder (pausar) o que aumenta as oportunidades dela se comunicar e possibilita o tomar a vez; usa a modelação como estratégia, explica como se faz; usa a resolução conjunta de problemas.

As atividades devem ocorrer em contextos naturais para que a aprendizagem seja significativa. Para que ocorra aprendizagem é preciso proporcionar experiências em quantidade suficiente para poder aprender, pois são necessárias muitas repetições para manter a informação na memória, e também para dar tempo da pessoa praticar. É preciso considerar o estilo de aprendizagem de cada um observando suas preferências e fortalezas e trabalhar em cima das habilidades que a pessoa tem.

COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA

A habilidade de se comunicar se desenvolve assim que a criança adquire a compreensão de objetos e do ambiente social e os meios para controlar e afetá-los. Quando aspectos do ambiente podem ser representados e referidos ambos mentalmente e por ações e se adquire conhecimento de símbolos para uso interno para pensamento e uso externo para comunicar pensamentos aos outros.
Comunicação é um aspecto cognitivo e em reflexo do desenvolvimento cognitivo revelado durante interações sociais.
Para que a comunicação ocorra são necessários quatro elementos: o emissor ou locutor; o receptor; o tópico; o meio de expressá-lo.
Comunicação alternativa e aumentativa refere-se a sistemas usados para dar suporte às habilidades comunicativas do indivíduo cuja fala esteja temporariamente ou permanentemente inadequada para suprir as necessidades comunicativas do mesmo. Muitos indivíduos múltiplos deficientes usam um pouco de fala, vocalizações ou sons e gestos ou comportamentos para se comunicar, mas não de maneira efetiva, por isso se beneficiarão de um sistema alternativo e aumentativo de comunicação.

Estágios de comunicação

·    Pré-simbólico e Pré-intencional: trata-se da comunicação num estágio de reflexo na qual a pessoa não está ciente de seu próprio corpo e nem de que suas ações tem um efeito nas pessoas ou no meio. Suas manifestações são interpretadas pelos outros como comunicativas e a consistência nestas interpretações é que vão garantir que a pessoa avance para o próximo estágio.

·   Pré-simbólico e Intencional: quando a pessoa percebe que suas ações influenciam o meio e os outros. Mas sua intenção não é de se comunicar com o outro, mas de que algo prazeroso aconteça ou volte a acontecer. 

Comunicação pré-simbólica inclui chorar, empurrar, fazer birra, apontar, olhar, balançar a cabeça, expressões corporais e faciais, vocalizações, etc.

·   Simbólico: o primeiro passo em direção ao simbolismo são os gestos de apontar. Quanto maior for o distanciamento entre referente e referido maior o nível simbólico de comunicação. Simbolismo é quando se começa a nomear as coisas. Nomear algo é ter a capacidade de manter em mente a relação objeto real e o que o representa .

Comunicação simbólica inclui: fala, língua de sinais, escrita, Braille, etc.

·  Símbolos e gestos: Os gestos se limitam ao aqui e agora podendo apenas se referir ao que está fisicamente presente. Com símbolos é possível comunicar sobre coisas, lugares, pessoas e conceitos que não estão fisicamente presentes.

Para a pessoa com deficiência múltipla deve-se considerar seu estágio de comunicação e suas habilidades motoras antes de optar por um sistema. Tanto para estágios pré-simbólicos como simbólicos existem sistemas, como por exemplo, o uso de fotos, objetos concretos, desenhos e contornos, quanto sistema pictográficos de comunicação. 
A chave para o sucesso chama-se MOTIVAÇÃO. Só aprendemos quando motivados, por isso toda a preocupação em focar a educação da pessoa com deficiência múltipla dentro de atividades funcionais e significativas para ele. A possibilidade de se comunicar e ser ouvido, de ter a oportunidade de fazer escolhas dentro de uma rotina previsível, com atividades sendo antecipadas por um meio de comunicação dentro de suas possibilidades pode levar a pessoa a perceber que tem controle sobre sua vida, nem que seja em uma pequena parte, o que é altamente motivante. “Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades” ( Hallahan e Kaufman, 1994).
 
 Referências:
BOSCO, Ismênia C. M. G.; MESQUITA, Sandra R. S. H.; MAIA. Shirley R. Coletânea UFC – MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar – Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla.
Folheto FACT3 – COMMUNICATION / Primavera 2005 – Louisiana Department of Education 1.877.453.2721 State Board of Elementary and Secondary Education.Tradução: Vula Maria Ikonomidis. Revisão: Shirley Rodrigues Maia, Junho de 2008.
GIACOMINI, Lilia et all. Coletânea UFC – MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar – Fascículo 07: Orientação e Mobilidade, Adequação postural e Acessibilidade Espacial.
IKONOMIDIS, Vula Maria. Apostila sobre “Deficiência Múltipla Sensorial”, 2010 sem publicar.
SERPA, Ximena Fonegra. Comunicação para Pessoas com Surdocegueira. Tradução do livro Comunicacion para Persona Surdociegas, INSOR – Colombian, 2002.
















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