Curso de Especialização: Atendimento Educacional Especializado-AEE/UFC
2014
Disciplina:
AEE deficiência múltipla e Surdocegueira
Cursista: Marinete
Magalhães de Oliveira
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Do Grupo Brasil de Apoio ao
Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial
1- No que se diferenciam a Surdocegueira e a DMU?
A pessoa com
Deficiência Múltipla Sensorial – Visual (MDVI); é aquela que tem a
Deficiência Visual (baixa visão ou cegueira) associada a uma ou mais
deficiências (intelectual, físico-motora) ou a transtornos globais do
desenvolvimento e comunicação e que necessita de programas que favoreçam o
desenvolvimento das habilidades funcionais visando ao máximo de
independência possível e uma comunicação eficiente. (MAIA et al, 2008
p.14). A pessoa que com Deficiência Múltipla Sensorial – Auditiva (MDHI); é
aquela que tem deficiência auditiva/surdez associada à deficiência
intelectual ou a deficiência físico-motora ou a ambas, ou a Transtornos
Globais do Desenvolvimento. (MAIA et al, 2008, p.14). Pode ocorrer com as
pessoas com MDVI e ou com MDHI outras associações tais como: graves
problemas de saúde, sendo necessários cuidados específicos ou uso de
equipamentos para respiração e alimentação. Essas associações limitam a
interação social e as respostas aos estímulos naturais do ambiente,
exigindo o uso de várias abordagens para promover o desenvolvimento da
aprendizagem dessas pessoas.
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Sobre Conceito, Definição e Terminologia
Surdocegueira
A Surdocegueira é uma terminologia adotada
mundialmente para se referir a pessoas que tem perdas visuais e auditivas
concomitantes em graus diferentes, podendo ser:
Ø
Surdocego total: ausência total de visão e audição.
Ø
Surdocego com surdez profunda associada com resíduo visual: ausência de
percepção da fala mesmo com aparelho de amplificação sonora individual, com
resíduo visual que permite orientar-se pela luz, facilitando a mobilidade e com
apoio de alto contraste é possível ter percepção de objetos, pessoas e escrita
ou símbolos.
Ø
Surdocego com surdez moderada associada com resíduo visual: dificuldade
para compreender a fala em voz normal e sua percepção visual à luz permite
mobilidade e com apoio de alto contraste é possível ter percepção de objetos,
pessoas e escrita ou símbolos.
Ø
Surdocego com surdez moderada ou leve com cegueira: dificuldade auditiva
para compreender a fala em voz normal ou baixa é necessário falar mais próximo
ao ouvido e tom mais alto (fala ampliada), total ausência de visão, sem
percepção de luminosidade ou vulto..
Ø
Surdocego com perdas leves, tanto auditivas quanto visuais: dificuldade
para compreender a fala em voz baixa e seu resíduo visual possibilita que
defina e perceba volumes, cores e leitura em tinta ampliada.
Quanto ao período em que surgiu a Surdocegueira temos a definição:
a) Surdocegueira
congênita: quando a criança nasce surdocega ou adquire a Surdocegueira
nos primeiros anos de vida antes da aquisição de uma língua (português ou Libras
– Língua Brasileira de Sinais). Um exemplo mais frequente destes casos é a
criança com sequelas da síndrome da rubéola congênita.
b) Surdocegueira adquirida: quando a pessoa ficou
surdocega após a aquisição de uma língua, seja oral ou sinalizada. Os exemplos
mais frequentes deste grupo são pessoas com Síndrome de Usher.
Segundo
Grupo Brasil (2002), este grupo de pessoas podem ser:
- · Pessoas nascidas com audição e visão normal e que adquiriram perdas totais ou parciais de visão e audição
- ·Pessoas com perda auditiva ou surdas congênitas com deficiência visual adquirida
- ·Pessoas com perda visual ou cegas congênitas com deficiência auditiva adquirida
Deficiência Múltipla
No
Brasil a deficiência múltipla é considerada como uma associação de duas
deficiências ou mais. Na América Latina, América do Norte, Europa, Ásia e
Oceania a Deficiência Múltipla só é considerada se há nas associações das
Deficiências a Deficiência Intelectual.
Como pode ocorrer a Deficiência Múltipla no Brasil
Física e Psíquica
- Deficiência física associada à Deficiência Intelectual
- ·Deficiência Física associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento.
Sensorial e Psíquica
- ·Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Intelectual
- ·Deficiência Visual associada à Deficiência Intelectual
- ·Deficiência Auditiva/Surdez associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento
- · Deficiência Visual associada a Transtornos Globais do desenvolvimento.
Sensorial e Física
· Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Física
· Deficiência Auditiva/Surdez associada à Paralisia Cerebral
· Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Deficiência
Física
· Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Paralisia
Cerebral
Física, Psíquica e Sensorial
·Deficiência física associada à deficiência visual (cegueira ou baixa
visão) e a Deficiência Intelectual.
·Deficiência física associada à Deficiência Auditiva/Surdez e a
Deficiência Intelectual
·Deficiência visual (Cegueira e ou baixa visão), paralisia cerebral e Deficiência
Intelectual.
2- Quais são as necessidades básicas
deles?
Ø Necessidades da Pessoa com Múltipla Deficiência
De acordo com Nunes (2002), podem ser agrupadas em três blocos:
Necessidades físicas e médicas, como por exemplo:
· A mais frequente causa da
deficiência múltipla é a Paralisia Cerebral, que compromete a postura e a
mobilidade. Os movimentos voluntários são limitados em termos qualitativos e
quantitativos.
· Limitações sensoriais (visual
e auditiva)
· Convulsões
· Controle respiratório e
pulmonar
· Problemas com deglutição e
mastigação
· Saúde mais frágil com pouca
resistência física
Necessidades emocionais de:
·
Afeto
·
Atenção
·
Oportunidades de interagir
com o meio e com o outro
·
Desenvolver relações sociais
e afetivas
·
Estabelecer uma relação de
confiança
Necessidades educativas devido a:
·
Limitações no acesso ao
ambiente
·
Dificuldades em dirigir
atenção para estímulos relevantes
·
Dificuldades na interpretação
da informação
·
Dificuldades na generalização
Por que a Surdocegueira não é uma Deficiência Múltipla
A pessoa que nasce com Surdocegueira
ou que fica surdocega não recebe as informações sobre o que está sua volta de
maneira fidedigna, ela precisa da mediação de comunicação para poder receber,
interpretar e conhecer o que lhe cerca.
Seu conhecimento do mundo se
faz pelo uso dos canais sensoriais proximais como: tato, olfato, paladar, sinestésico,
proprioceptivo e vestibular.
Na deficiência Múltipla não
garantimos que todas as informações muitas vezes chegam para a pessoa de forma
fidedigna, mas ela sempre terá o apoio de um dos canais distantes (visão e ou
audição) como ponto de referência, esses dois canais são responsáveis pela
maioria do conhecimento que vamos adquirindo ao longo da vida.
3- Quais
estratégias que são utilizadas para aquisição de comunicação com pessoas com Surdocegueira e com Deficiência Múltipla?
Para as pessoas com Surdocegueira
e ou com deficiência múltipla dividimos a comunicação em Receptiva e
Expressiva, para favorecer a eficiência da transmissão e interpretação. A comunicação
receptiva ocorre quando alguém recebe e processa a informação dada por meio de
uma fonte e forma (escrita, fala Libras e etc.). A informação pode ser recebida
por meio de uma pessoa, radio ou TV, objetos, figuras, ou por uma variedade de
outras fontes e formas. No entanto, comunicação receptiva requer que a pessoa
que está recebendo a informação forme uma interpretação que seja equivalente
com a mensagem de quem enviou tentou passar.
A comunicação expressiva
requer que um comunicador (pessoa que comunica) passe a informação para outra
pessoa. Comunicação expressiva pode ser realizada por meio do uso de objetos,
gestos, movimentos corporais, fala escritas, figuras, e muitas outras variações.
Analisando as necessidades de uma pessoa com deficiência
múltipla e as consequências que a falta de comunicação pode trazer a abordagem
educacional deve ter estratégias planejadas de forma sistemática, num modelo
de colaboração na qual a comunicação seja a prioridade
central.
É necessário organizar o mundo da pessoa por meio do
estabelecimento de rotinas claras e uma comunicação adequada. É preciso
desenvolver atividades de maneira multissensorial para garantir aproveitamento
de todos os sentidos e que sejam atividades que proporcionem uma aprendizagem
significativa com oportunidades de generalizar para outros ambientes e pessoas
(atividade funcional).
A pessoa com deficiência múltipla necessita de um ambiente
reativo, isto é, que responda a suas iniciativas. Seu tempo de resposta deve
ser respeitado e a habilidades de fazer escolhas deve estar dentro de suas
atividades programadas.
Esta abordagem educacional nada mais é do que o trabalho em equipe.
Segundo Nunes (1999) no trabalho com a pessoa com deficiência múltipla é
fundamental a colaboração da família bem como dos profissionais de outros
serviços no qual todas as pessoas partilhem dos mesmos objetivos. A intervenção
se torna mais rica e a responsabilidade é partilhada por todos, assim a família
não se sente isolada nem tampouco atribui sucessos e fracassos inteiramente a
escola.
Todos devem trabalhar visando à máxima independência possível da
pessoa ensinando a ter autonomia para levar uma vida digna. Independência
possível no sentido de considerar as dificuldades motoras e cognitivas da
pessoa.
Ao elaborar um currículo com atividades funcionais devem-se
levar em conta algumas questões:
·
Para que a pessoa precisa
aprender esta habilidade?
·
Será relevante para sua vida
futura?
·
É uma prioridade para ela ou
para sua família?
·
Promove independência?
·
Precisa desta habilidade com frequência?
Deve-se trabalhar num contexto de aprendizagem construtivista,
ecológico e responsivo. Por construtivo entende-se: ser construído
face a face, nas interações entre diferentes atores e nas relações
interpessoais entre eles; no processo contínuo de forma partilhada; na
construção contextual, dinâmica e evolutiva. Ecológico no sentido de:
envolver os contextos naturais na qual a pessoa se encontra e os atores que com
ela interagem. E por responsiva entende-se: dar tempo à pessoa para responder
(pausar) o que aumenta as oportunidades dela se comunicar e possibilita o tomar
a vez; usa a modelação como estratégia, explica como se faz; usa a resolução
conjunta de problemas.
As atividades devem ocorrer em contextos naturais para que a
aprendizagem seja significativa. Para que ocorra aprendizagem é preciso
proporcionar experiências em quantidade suficiente para poder aprender, pois
são necessárias muitas repetições para manter a informação na memória, e também
para dar tempo da pessoa praticar. É preciso considerar o estilo de
aprendizagem de cada um observando suas preferências e fortalezas e trabalhar
em cima das habilidades que a pessoa tem.
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA
A habilidade de se comunicar se desenvolve assim que a criança
adquire a compreensão de objetos e do ambiente social e os meios para controlar
e afetá-los. Quando aspectos do ambiente podem ser representados e referidos
ambos mentalmente e por ações e se adquire conhecimento de símbolos para uso
interno para pensamento e uso externo para comunicar pensamentos aos outros.
Comunicação é um aspecto cognitivo e em reflexo do
desenvolvimento cognitivo revelado durante interações sociais.
Para que a comunicação ocorra são necessários quatro elementos:
o emissor ou locutor; o receptor; o tópico; o meio de expressá-lo.
Comunicação alternativa e aumentativa refere-se a sistemas
usados para dar suporte às habilidades comunicativas do indivíduo cuja fala
esteja temporariamente ou permanentemente inadequada para suprir as
necessidades comunicativas do mesmo. Muitos indivíduos múltiplos deficientes
usam um pouco de fala, vocalizações ou sons e gestos ou comportamentos para se
comunicar, mas não de maneira efetiva, por isso se beneficiarão de um sistema
alternativo e aumentativo de comunicação.
Estágios de comunicação
· Pré-simbólico e Pré-intencional: trata-se da comunicação num estágio de reflexo na qual a pessoa
não está ciente de seu próprio corpo e nem de que suas ações tem um efeito nas
pessoas ou no meio. Suas manifestações são interpretadas pelos outros como
comunicativas e a consistência nestas interpretações é que vão garantir que a
pessoa avance para o próximo estágio.
· Pré-simbólico e Intencional:
quando a pessoa percebe que suas ações influenciam o meio e os outros. Mas sua
intenção não é de se comunicar com o outro, mas de que algo prazeroso aconteça
ou volte a acontecer.
Comunicação pré-simbólica inclui chorar, empurrar, fazer birra,
apontar, olhar, balançar a cabeça, expressões corporais e faciais, vocalizações,
etc.
· Simbólico: o primeiro passo em
direção ao simbolismo são os gestos de apontar. Quanto maior for o
distanciamento entre referente e referido maior o nível simbólico de
comunicação. Simbolismo é quando se começa a nomear as coisas. Nomear algo é
ter a capacidade de manter em mente a relação objeto real e o que o representa
.
Comunicação simbólica inclui: fala, língua de sinais, escrita,
Braille, etc.
· Símbolos e gestos: Os gestos se
limitam ao aqui e agora podendo apenas se referir ao que está fisicamente
presente. Com símbolos é possível comunicar sobre coisas, lugares, pessoas e
conceitos que não estão fisicamente presentes.
Para a pessoa com deficiência múltipla deve-se considerar seu
estágio de comunicação e suas habilidades motoras antes de optar por um
sistema. Tanto para estágios pré-simbólicos como simbólicos existem sistemas,
como por exemplo, o uso de fotos, objetos concretos, desenhos e contornos, quanto
sistema pictográficos de comunicação.
A chave para o sucesso chama-se MOTIVAÇÃO. Só aprendemos quando
motivados, por isso toda a preocupação em focar a educação da pessoa com
deficiência múltipla dentro de atividades funcionais e significativas para ele.
A possibilidade de se comunicar e ser ouvido, de ter a oportunidade de fazer
escolhas dentro de uma rotina previsível, com atividades sendo antecipadas por
um meio de comunicação dentro de suas possibilidades pode levar a pessoa a
perceber que tem controle sobre sua vida, nem que seja em uma pequena parte, o
que é altamente motivante. “Nós não devemos deixar que as incapacidades das
pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades” ( Hallahan e Kaufman, 1994).
Referências:
BOSCO, Ismênia C. M. G.; MESQUITA, Sandra R. S. H.; MAIA. Shirley R.
Coletânea UFC – MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão
Escolar – Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla.
Folheto FACT3 – COMMUNICATION / Primavera
2005 – Louisiana Department of Education 1.877.453.2721 State Board of
Elementary and Secondary Education.Tradução: Vula Maria Ikonomidis. Revisão: Shirley Rodrigues Maia, Junho de 2008.
GIACOMINI, Lilia et all. Coletânea UFC – MEC/2010: A Educação Especial
na Perspectiva da Inclusão Escolar – Fascículo 07: Orientação e Mobilidade,
Adequação postural e Acessibilidade Espacial.
IKONOMIDIS, Vula Maria. Apostila sobre “Deficiência Múltipla Sensorial”,
2010 sem publicar.
SERPA, Ximena Fonegra. Comunicação para Pessoas com Surdocegueira. Tradução do livro Comunicacion para Persona Surdociegas, INSOR – Colombian,
2002.
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